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domingo, 5 de junho de 2016

Resenha
A Dama de Papel
Catarina Muniz
Universo dos Livros



Fiquei gratamente surpresa ao ler esse livro pela abordagem diferente que a autora dá à independência feminina nos idos 1875, Era Vitoriana, em Londres. O relato é sobre Melinda Scott Williams, ou Molly, uma jovem bem nascida de apenas 20 anos, que é prometida em casamento a um homem idoso e, com ousadia, foge dele tornando-se prostituta. Molly "herda" o prostíbulo e se torna "famosa" por seus dotes. O mais interessante é que a autora coloca claramente que a jovem escolheu a vida que levava. Ao contrário de muitos livros que li, Molly não foi obrigada a se prostituir. Ela simplesmente queria se livre, dona de seu próprio destino. Então ela Conhece Charles O'Connor, empresário rico, que é tomado de amores e começa a escrever poesias eróticas para ela, poesias essas que por acidente se perdem pela cidade, levando a muitos a copiarem e espalharem as mesmas que, para sua sorte, não contêm o nome de Charles. As mulheres mais recatadas leem, escondidas, os escritos do homem misterioso para sua dama. Vejamos um trecho, para colocar água na boca:

"Ela, uma desavergonhada primitiva;
eu, homem das cavernas.
Ah, que doce sofrimento me foi proporcionado.
Por três vezes, bebi o néctar dos deuses.
Por três vezes, morri um pouco.
Agora aqui estou, ardendo como a chama da vela
que ilumina essas palavras,
Afogado pelos pensamentos obscenos que essa
dama escarlate
Cravou em minha mente.
Quero-a novamente.
E saciarei essa fome interminável mais uma vez.
O quanto antes."


Enquanto isso, a fama de Molly se espalha cada vez mais, o que leva a vários cavalheiros a procurarem seus favores, inclusive seu pai, que não sabe de seu destino e de quem Molly se esconde. A história é apresentada de maneira clara e objetiva. As dores e amores mostrados de forma simples e gostosa de ler. O que também impressiona são os argumentos de Molly para se prostituir. Ela não vê a vida com os mesmos olhos de mulheres de sua época, o que muitas de suas "companheiras de profissão" não compreendem, já que dariam tudo para deixar aquela desregrada situação, aceitando o que Molly sempre se recusou. Catarina Muniz também nos apresenta a situação injusta das mulheres: Homens podem trair; mulheres não (vamos ser francos e admitir que até hoje essa regra se estabelece, mas é disfarçada pela hipocrisia em que vivemos). Por fim, o desenlace difere muito do que esperaríamos de um romance de época, mas isso vocês terão que ver por si. O livro é muito bem ambientado dentro da História, citando fatos como o Slave Trade Suppression Act ou Aberdeen Act (Bill Aberdeen), Revolução Industrial e outros e por isso mesmo torna a leitura uma viagem agradabilíssima e, talvez, real. Recomendadíssimo!

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